3 de janeiro de 2012

Variações em torno de um círculo - VII - Encontro

Recorte em cartolina - A4
 Afundo-me
no tremendo mistério
de sermos... ainda...
dois!

Hesito...
Resisto...
Debato-me...

E mergulho, enfim,
trémula e vibrante,
nos braços noturnos
do vazio.

Variações em torno de um círculo - VI - Yin Yang

Recorte em cartolina - A4
Sim, reconhecer-me-ás!
Eternamente Um
em cada dois...

Variações em torno de um círculo - V - Poeira de estrelas

Recorte em cartolina - A4

Entre estrume e água,
a poeira dourada
das estrelas.

Lama originária,
matéria dos corpos
e dos sonhos.

Variações em torno de um círculo - IV - Flor

Recorte em cartolina - A4

A vespa repousa
no coração rubro,
aveludado,
da Rosa.


Variações em torno de um circulo - III - Raízes

Recorte em cartolina - A4

Sob as pedras,
o labor surdo
das raízes,
voz das profundezas.

Latejar de veias
sob o finíssimo véu
da pele.

Variações em torno de um círculo - II - Asas

Recorte em cartolina - A4

Golpe de asa!
Rumor de branco sobre o azul!

Rasgão...
Fenda...
Ferida aberta...
Antecipação da luz!

1 de janeiro de 2012

Variações em torno de um círculo - I - Reverência

Recorte em cartolina - A4

Dá-me, meu Deus, a graça
do sopro!... Da palavra!...

Agulha de silêncio
atravessando
o oceano rumoroso
do sangue.

Enquanto pintas...


Enquanto pintas, cada momento pode ser totalmente satisfatório. Mas uma vez a pintura completa, nunca pode ser totalmente satisfatória, porque, se o for, o pintor terá de cometer suicídio. Não haverá necessidade de viver mais. É por isso que digo que a vida é saudade, saudade pura - anseio de atingir picos mais e mais elevados, desejo de mergulhar mais e mais profundamente na existência. Mas cada momento pode ser totalmente satisfatório... Quando pintas, cada pincelada, cada cor que lanças na tela, cada momento, é totalmente satisfatório. Nada mais existe. Estás totalmente perdido, possuído, se és um criador.
Se és apenas um técnico, então não é assim. O técnico não se perde enquanto pinta, ele está separado de sua pintura. Ele está apenas a utilizar os seus conhecimentos. Ele sabe como pintar, é tudo. Não há nada no seu coração para pintar - nem visão, nem poesia, nem canção. Ele não tem nada para criar, apenas detém a tecnologia. Ele é um técnico, não um artista. Ele pode pintar - mas pintar, para ele, não é uma meditação, não é um caso de amor. Ele faz a pintura, ele é um fazedor, está separado. O criador não está separado enquanto cria, ele é um com a criação. Ele está completamente perdido, ele esqueceu-se de si mesmo.
É por isso que, quando os pintores estão a pintar, se esquecem de comer, de beber, de dormir. Esquecem-se do corpo de tal maneira que podem pintar por dezoito horas sem se sentirem de todo cansados. E cada momento é absolutamente satisfatório. Mas, uma vez a pintura terminada, uma grande tristeza desce sobre o verdadeiro pintor. Quando a pintura está completa, o técnico sente-se muito feliz: um bom trabalho está feito, terminado. Ele sente-se cansado; foi um processo longo e cansativo, sem grande contentamento no decurso. Ele estava apenas à espera do resultado, estava orientado para o resultado. Ele queria terminar a obra de alguma forma, e agora a obra está acabada. Ele dá um profundo suspiro de alívio. Ele está feliz, não enquanto pinta, mas somente quando o quadro está pronto.
Exatamente o oposto acontece com o criador. Ele está feliz enquanto pinta; uma vez a pintura completa, uma grande tristeza desce sobre ele. "Então, terminou? Esse pico, esse clímax, essa experiência orgásmica, terminou? Essa emoção, essa aventura, esse mergulho no desconhecido, terminou?"… Assim como os amantes se sentem tristes depois de um orgasmo profundo: uma tristeza subtil, bela em si mesma, de enorme valor - muito mais valiosa do que a felicidade do técnico, pois dessa tristeza outra pintura emergirá, dessa tristeza outro desejo de voar alto, outra aspiração de ir além, outra pesquisa, outro inquérito, outra gravidez. O pintor vai estar grávido em breve, vai sentir-se cheio, tão cheio que vai ter que compartilhar novamente o que o habita.
(OSHO)